No coração pulsante da modernidade, onde o concreto sufoca a natureza outrora encantada e o ritmo frenético das cidades nos desconecta do núcleo sagrado do nosso próprio ser, emerge uma revolução silenciosa e po(ética): o cicloturismo de base comunitária.(CTBC) Esse movimento fecundo de renovação do mundo, que floresce como um oásis de serenidade e paixão pela arte de pedalar, transforma a relação das pessoas com os espaços urbanos, oferecendo uma nova perspectiva sobre a vida, as relações e a cidade. E é nesse contexto que o Pedal Zen encontra seu propósito, desbravando trilhas que resgatam a essência de uma convivência sensível, inteligente e harmoniosa com a natureza e a cultura local.
O cicloturismo de base comunitária (CTBC), ao contrário do turismo convencional, não é sobre a pressa de chegar ao destino, mas sim sobre a jornada em si. Pedalar é um ato meditativo, uma aprendizagem de si, um convite à contemplação e à introspecção. Ao girar os pedais, o corpo se liberta das tensões acumuladas, o coração encontra seu ritmo natural e a mente se despe do excesso de pensamentos. Pedalar é desnudar a alma. Nesse processo, o cicloturista vivencia uma forma de meditação, onde cada pedalada é uma contemplação amorosa do momento presente, uma aventura tecida pelo elo com o aqui e o agora.
Os benefícios para o corpo são múltiplos e evidentes. Pedalar fortalece os músculos, melhora a capacidade cardiovascular e promove a liberação de hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar. Além disso, o contato direto com a natureza e o ar fresco revigora o organismo, trazendo uma sensação de vitalidade, magnetismo e energia renovada. Mas os efeitos benéficos não param no físico; eles se estendem à mente e ao espírito, proporcionando uma harmonia interior que muitas vezes se perde na agitação e poluição do cotidiano urbano. Logo, é tempo de desacelerar, é tempo de pedalar, é tempo de ocupar poéticamente a cidade..para que esta volte a ser um território encantado de vida.
Através do Pedal Zen, essa filosofia ganha uma vivacidade em trilhas que revelam a riqueza histórica e cultural dos destinos visitados. Em Massarandupió, Barra de Itariri, Subúrbio e no Centro Histórico de Salvador, o cicloturismo do Pedal Zen já se tornou conhecido, pois promove uma ponte entre o passado e o presente, conectando o viajante à alma dos lugares. Sim cada território tem uma alma, uma ancestralidade, um cheiro, um sabor, um saber, uma história oculta. Nesta visada, cada pedalada é uma descoberta, uma interação afetiva com as paisagens e as pessoas que habitam geopoeticamente esses espaços. A bicicleta, sempre zen, silenciosa e ecológica, permite uma aproximação genuína e respeitosa com o meio ambiente e a comunidade local.
Portanto, o CTBC promove uma ocupação poética da cidade, uma resignificação do território, visto como um manancial rico de vida. A geopoética do Pedal Zen nos ensina a olhar para os espaços urbanos com novos olhos, a encontrar beleza nas pequenas coisas e a valorizar a simplicidade. É uma forma de (re) existência contra a desumanização do corpo-território-cidade. Trata-se de uma celebração da vida em sua forma mais pura e essencial. Através do Pedal Zen, redescobrimos o prazer de desfrutar a paisagem, de nos conectar com o outro e com nós mesmos, numa ética do cuidado, nesta interface po(ética) entre o exterior e o interior…o corpo-território-mundo se cura…
Essa prática renova o mundo porque transforma as pessoas. Cada cicloturista que desbrava uma trilha do Pedal Zen leva consigo uma nova cosmovisão, mais sensível, consciente e solidária. É um movimento que cresce, silencioso mas poderoso, como uma correnteza que, aos poucos, molda o curso de um rio. E assim, pedalada a pedalada, vamos ocupando a cidade de forma geopoética, deixando um rastro de esperança, fé e renovação.
TTássio S. Cardoso, ciclista, escritor, fundador do Pedal Zen e Doutor em Educação pela UNEB