O Natal e as Chaves

Dezembro
Vamos refletir sobre Natal?
O NATAL DAS CHAVES
(Negra Luz)
Natal de 2021: o que esperar dele? Será um Natal de virada de chaves? Cogitaram-se esta indagação? Ou ficaremos apenas no abrir de portas e nas saídas para a arena da rua, para as festas, para os shoppings, para as escolas, para os trabalhos presenciais?
Caminhamos para o último mês do ano. Tradicionalmente, dezembro é um mês de invocações à esperança, à compaixão, à reconciliação conosco mesmos e com o próximo.  Este ano, porém, há motivos especiais para as festas de fim de ano pois, após um período de quase dois anos de pandemia, começamos a relaxar.
Ainda que amargando mais de 650.000 adeuses – só aqui no Brasil – estamos virando a chave. A Ciência vencendo mais uma vez através da vacina, trazendo a cura, possibilitando um novo momento mundial! Mas… o que levaremos deste momento? Ficaremos apenas na euforia das chaves? Na abertura de portas? Na virada de mais uma página na História? Perguntemo-nos mais: A pandemia é uma página isolada que pode ser virada sem outras viradas? O que veio à tona através dela? Ou melhor: o que ficou mais evidente?
Ao longo destes dois anos, muitas questões foram evidenciadas: ratificou-se que a liberdade é um valor e que é duro quando ela é cerceada, ainda que por razão de vida; tornou-se cristalino que, mesmo sendo de  uma geração eminentemente digital, ainda queremos o tocar, o abraçar, o estar com nossas tribos; consolidou-se que a tecnologia pode ser uma aliada para nutrirem-se os laços, haja vista tantas lives- família; constatou-se que empreender pode ser uma alternativa de subsistência digna para muitos e que a virtualidade pode ser um ponto de partida…
No bojo dessas questões inserem-se, ainda, o aumento de pessoas com depressão, o crescimento dos atos de violência doméstica, o destilar de práticas racistas e homofóbicas, o multiplicar das fake news, o agravamento dos índices de pessoas em situação de insegurança alimentar e em estado de rua, o acirramento do desemprego, dentre outras.
Sobre as primeiras constatações, entende-se que elas deixam um saldo de conclusões e caminhos positivos.  Quanto às demais questões, pendentes de resoluções, urge atuar na direção da mudança. Mas como fazer isto? E por que falar sobre esses temas no período natalino?
O Natal é um tempo em que a tradição de comemorar o nascimento de Jesus cria uma egrégora mundial de esperança. Recorda-se que houve um Cristo que nasceu para nos salvar, um ser que trouxe esperança, que humanamente sofreu, que perdoou e que teve o amar como verbo forte; mas, um ser que questionou a realidade e que, vivenciando as estruturas, opinou, posicionou-se e atuou na busca de mudanças. Para tanto, pregou respeito ao outro, ensinou a partilhar, repartir o pão, acolheu as minorias e, mesmo vacilante em poucos momentos, seguiu a sua missão: sofrer para que não sofrêssemos. Com o exemplo de Jesus, perguntemo-nos como tudo isto se encaixa nas nossas vidas e o que fazemos de concreto, a partir de então.
Sim, parece razoável o entendimento de um Natal de nascimentos e de ações concretas, face à sociedade, uma sociedade pós-pico de pandemia de Covid e que convive diversas pendências sócio-econômico-estruturais que não serão resolvidas a curto prazo, mas que podem ser mitigadas com pequenos atos e  arrefecidas a médio e longo prazo, a partir de reflexão, entendimento e ação.
Mais imediatamesmte, podemos desenvolver ações de arrecadação, de ajuda a instituições filantrópicas, de coleta e redução da produção de lixo, do uso adequado dos equipamentos coletivos etc.
Mais profundamente, reconhecer atitudes intolerantes ou discriminatórias, promover respeito à diversidade, adotar práticas sustentáveis em prol do meio ambiente, promover uma cultura de paz, valorizar a infância, enaltecer o valor da verdade, exercitar a gratidão.
Com ações assim, o Natal pode ser potencializado nos valores e sentimentos a que está atrelado, irradiando sentido para além de uma data ou de um período pontual do ano.
Com a essência do Natal ampliada, não viraremos apenas as chaves pós-pandemia, mas poderemos dar a partida para tornar passado as questões que nos circundam. Nem que seja apenas amenizar a fome de uma família ou desolamento de um pai de família desempregado que tenha obtido alocação no mercado de trabalho
Projetando- nos no Natal que aqui aventamos, desejo a todos e a todas um Tempo Natalino de muita Luz, Paz, Saúde e Prosperidade!
** Também publicado na revista Alto do Parque de dezembro.
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Sobre Shah Moises 2071 Artigos
Cineasta, editor, e produtor cultural.
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