“Há mais médicos saindo das faculdades do que vagas nas especializações”, alerta especialista

Cerca de 25 mil médicos se formam por ano no Brasil, mas apenas 17 mil vagas são disponibilizadas pelos programas de residência médica

O Brasil tem cerca 500 mil  médicos ativos, sendo que desses cerca de 50 mil se formaram só nos anos de 2020 e 2021, em plena pandemia da Covid-19. Neste cenário, antes de buscar os programas de residência médica ou de fazer uma especialização, muitos recém-formados foram trabalhar nas emergências dos pacientes com coronavírus. Nas últimas semanas, porém, diante da redução dos leitos de UTI, muitos desses médicos começaram a repensar suas carreiras e a buscar formas de encarar a limitação das vagas para residentes. É que enquanto quase 25 mil médicos se formam por ano no país e mais de 38 mil vagas de graduação são abertas, existem apenas 17 mil vagas de residência médica disponíveis, ou seja, há muito mais médicos saindo da faculdade do que vagas nas especializações, fato que interfere diretamente na carreira desses profissionais e no serviço de saúde oferecido à população.

Quando o urologista Augusto Modesto se formou, em 1998, a realidade não era muito diferente. Naquele período, cerca de 30% dos médicos formados conseguiam fazer uma residência médica, modalidade de ensino de pós-graduação em nível de especialização caracterizada por treinamento em serviço. As vagas eram limitadas, mas o médico sabia que a experiência de praticamente residir em um hospital de grande porte seria decisiva para sua formação. “Lembro-me bem que durante a residência em cirurgia geral e, depois, em urologia, na Santa Casa de São Paulo, eu entrava às quatro horas da manhã e não tinha horário para sair. As vivências práticas e intensas proporcionadas pela residência médica, que duram de três a seis anos, a depender da especialidade, são incomparáveis”, afirmou.

Como todo médico precisa estar constantemente se atualizando para acompanhar a rápida evolução da tecnologia, novos medicamentos e novas técnicas diagnósticas e de tratamento, sobretudo para oferecer segurança e o máximo possível de possibilidades de intervenção ao seu paciente, o médico decidiu ir além e fez também uma especialização em Transplante Renal e outra em Oncologia Urológica, além do Mestrado em Oncologia.

No passado, quando não havia técnicas minimamente invasivas e as cirurgias eram todas feitas da forma convencional (abertas), ser cirurgião geral e operar “quase tudo” era um grande feito. Com o passar do tempo, porém, a medicina tem ficado cada vez mais específica. “Em uma mesma especialidade, como a urologia, que trata do sistema urinário do homem e da  mulher e do aparelho genital masculino, temos nove sub-áreas e em cada uma delas temos um ‘mundo’. As perspectivas para quem deseja passar por este funil passam por enfrentar uma grande concorrência, mas não tenho dúvida de que superar esse desafio vale a pena”, concluiu Augusto Modesto.

* Augusto Modesto é chefe do serviço de Urologia do Hospital Aristides Maltez, preceptor de Urologia no Hospital São Rafael, urologista no Hospital Aliança e integrante do Robótica Bahia – Assistência Multidisciplinar em Cirurgia.

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