Heráclito Fontoura Sobral Pinto
Na campanha das “Diretas Já!”, em 1984, viveu um de seus momentos mais marcantes. Num comício na Candelária, pediu silêncio e proferiu a Constituição: “Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido.” A multidão delirou com sua vitalidade cívica.
Era um auxiliar de escrita nos Correios e ouviu uma gritaria em frente à agência da praça Quinze, no Rio de Janeiro. Da sacada do prédio, avistou alguns soldados espancando um jovem. Desceu à rua e livrou o garoto dos agressores. Como estudava Direito, levou a vítima à delegacia e encarregou-se de sua defesa. O delegado ameaçou prender o rapaz, mas acabou acatando os argumentos do futuro advogado. Antes de dar fim ao caso, no entanto, advertiu: “Veja se não fica comprando brigas alheias.” O conselho entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Em 74 anos de carreira, Heráclito Fontoura Sobral Pinto não fez outra coisa na vida senão comprar brigas alheais. Defendeu, como poucos, políticos e intelectuais perseguidos por regimes autoritários que primeiro matavam para depois perguntar por quê.