OMS: com reprodução inédita, ômicron será dominante em questão de semanas

Agência aponta que variante poderia atingir lado superior do sistema respiratório, reduzindo impacto sobre pulmões

Em locais com populações desprotegidas, risco é de que sistemas de saúde sejam colocados sob pressão

Onde ela desembarcar, a variante ômicron será dominante em questão de semanas. O alerta é de Abdi Mahamud, gerente da equipe de apoio da OMS sobre a covid-19. Ele, porém, aponta que os estudos indicam que existe uma dissociação entre o número de novos casos registrados e a taxa de internação e de mortes e que pesquisas sinalizam que mutação poderia gerar sintomas mais suaves. A agência de Saúde ainda aposta que quem estiver vacinado estará ainda protegido contra o desenvolvimento de uma doença severa. Mas alerta que, em locais com ampla parcela da população sem imunização, a variante pode significar uma pressão importante sobre os sistemas de saúde.

“Onde ômicron entrar, será dominante em questão de semanas”, disse o representante da OMS. “Nunca vimos um vírus tão transmissível”, admitiu Mahamud, em coletiva de imprensa nesta terça-feira em Genebra. De acordo com ele, a taxa de contaminação é superior até mesmo ao sarampo.
Alguns estudos, como na Dinamarca, os casos de ômicron dobraram em dois dias, enquanto outras variantes da covid-19 levaram duas semanas para atingir a mesma taxa. “Esses dados mostram a velocidade em que o fogo está queimando”, disse.
A explosão no número de casos pelo mundo levou a uma paralisia do site da OMS que contabiliza o volume de pessoas infectadas. A última atualização é ainda de 29 de dezembro de 2021, quando 128 países tinham registrado a variante ômicron. “Tivemos casos que nunca vimos antes. Milhões de casos”, admitiu o representante da OMS, que promete colocar seu site em ordem.

Apesar dos casos em alta, Mahamud indica que o padrão tem sido constante em algumas partes do mundo, com a explosão de contágios, mas sem o mesmo ritmo de aumento de mortes e internações em UTIs.
“Vimos crescimento exponencial na África do Sul e, depois, uma queda”, disse. Segundo ele, ainda é cedo para comemorar uma variante eventualmente mais suave. Mas a constatação é de que o número de mortes e internações no país africano continuou baixo.
“Podemos estar vendo uma dissociação entre casos e mortes, tanto na África do Sul como no resto do mundo”, disse.
De acordo com o técnico da OMS, houve um “aumento incrível” de casos nos EUA. Mas sem que a taxa tenha sido acompanhada no mesmo ritmo no que se refere às hospitalizações.

Vacina é aposta

A agência de Saúde da ONU acredita que uma das notícias positivas dos primeiros estudos se refere ao fato de que a variante ômicron está atingindo a parte superior do sistema respiratório, com uma incidência nos pulmões menos agressiva que as demais mutações.
“Os estudos apontam nessa direção e isso é a boa notícia. Mas precisamos ter cautela”, disse.

O problema se refere à população ainda não vacinada ou que vive uma situação específica de vulnerabilidade. Para esse grupo, o impacto da ômicron será “duro”. “Se você estiver vacinado, estará mais protegido”, disse o especialista.
“A vacina protege. Mas o desafio não é a vacina. Mas a vacinação”, insistiu. Segundo ele, ainda é cedo para concluir que todos os imunizantes funcionam. Mas a OMS aposta que as doses hoje no mercado estão protegendo as pessoas de desenvolver sintomas agudos e de morte.

“O vírus replica onde não há vacinação. Vimos isso com a variante delta e, agora, com ômicron”, disse. Segundo ele, pelo interesse global, a prioridade da resposta internacional deve ser a vacinação de todos.
A OMS explicou que técnicos se reuniram durante o feriado de final de ano para avaliar se existe a necessidade de uma mudança na vacina para lidar com a nova variante. Mas a constatação é de que o setor farmacêutico terá de avaliar o risco de fazer todas suas apostas numa variante que, em alguns meses, poderá ser substituída por outra mutação.

“Ômicron mostra o quanto não sabemos ainda sobre a evolução do vírus”, disse Mahamud. Ele pede que haja uma resposta coordenada por parte do setor farmacêutico e ainda que, antes de governos iniciarem uma exigência de 4ª dose de imunizantes para suas populações, países em desenvolvimento sejam abastecidos com vacinas. “Temos um inimigo comum. A prioridade é dar para quem não tomou ainda”, completou.
A meta da OMS é ter 70% da população de cada país vacinada contra a covid-19 até meados de 2022.

 

FONTE – Uol

Jamil Chade colunista Uol

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