Há cinco anos, a comerciante Carina Ferreira de Oliveira (30) se aborreceu no trabalho e começou a sentir tonturas e fortes dores de cabeça. Após investigação médica e confirmação diagnóstica de hipertensão arterial, ela melhorou a alimentação, começou a praticar atividades físicas, passou a evitar situações estressantes e a tomar medicamentos para controle da pressão, entre outras mudanças na rotina. Este exemplo emblemático retrata a realidade de 27,3% das mulheres brasileiras. Mais prevalente no público feminino, a pressão alta também afeta os homens, mas em porcentagem menor: 21,2%. O último levantamento do Ministério da Saúde, realizado em 2019, aponta mais de 53 mil óbitos pela doença, mas os especialistas não têm dúvidas de que a próxima pesquisa trará números ainda mais preocupantes.
Dados da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo apontam que cerca de 33% da população adulta brasileira é hipertensa, mas ao considerar apenas a população 60+, este percentual ultrapassa os 65%. O problema maior é que pelo menos 30% dos brasileiros desconhecem o diagnóstico já que, em muitos casos, a pressão alta é silenciosa, ou seja, não se manifesta através de sinais ou sintomas. Segundo o cardiologista e ecocardiografista Paulo Roberto Souza, embora nas faixas etárias mais jovens a hipertensão seja mais elevada nos homens, após os 60 anos, a doença atinge mais as mulheres. “Entre os fatores de risco, destacam-se, além da idade avançada, a pós-menopausa, o tabagismo, o diabetes, a dislipidemia e o histórico familiar”, destacou.
Diagnóstico – Pessoas hipertensas apresentam elevação contínua da pressão arterial. O diagnóstico é baseado em duas aferições por consulta em pelo menos duas idas ao médico. A pressão é considerada alta quando se apresenta igual ou maior que 14 por 9 mmHg (ou 140 por 90 mmHg). Por sua importância, a medida da pressão arterial deve ser estimulada e realizada em toda avaliação de saúde, por médicos das mais diversas especialidades e demais profissionais da área de saúde.
A medida domiciliar e a automedida podem ser úteis para identificar a hipertensão do avental branco (alteração isolada da pressão, influenciada pelo fato do paciente estar em um consultório médico); avaliar a eficácia do tratamento anti-hipertensivo; estimular a adesão ao tratamento e reduzir custos. “Embora não exista consenso quanto aos valores de normalidade para a medida da pressão arterial domiciliar, consideram-se valores normais até 13 por 8 mmHg (130 por 80 mmHg)”, detalhou o especialista.
De acordo com o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, a Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) é um método automático de medida indireta e intermitente da pressão arterial durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas atividades rotineiras, inclusive durante o sono. As principais indicações para este exame são a hipertensão arterial limítrofe ou episódica; avaliação do efeito terapêutico anti-hipertensivo e em casos de sintomas sugestivos de hipotensão, entre outras. “Não há evidência de que essa monitoração deva ser empregada na avaliação rotineira do paciente hipertenso, não substituindo, portanto, a avaliação clínica do paciente e a medida da pressão arterial de consultório”, aponta o documento.
No processo de diagnóstico e acompanhamento do paciente hipertenso, também precisam ser considerados a história clínica, o exame físico e a avaliação laboratorial, os quais ajudam a confirmar a elevação da pressão arterial, a avaliar possíveis lesões de órgãos-alvo, a identificar fatores de risco para doenças cardiovasculares e a diagnosticar a etiologia (origem) da doença. “A decisão terapêutica considera, além dos valores da pressão arterial, a presença ou não de lesões em órgãos-alvo e de fatores de risco cardiovascular associados”, destacou Paulo Souza.
Prevenção e tratamento – Segundo o cardiologista, as medidas de modificação de estilo de vida com foco na redução da pressão arterial são fundamentais para a prevenção e tratamento da hipertensão, e ajudam a diminuir a morbidade e a mortalidade cardiovasculares. As principais mudanças recomendadas pelo médico são a redução do peso corporal, da ingestão do sal e do consumo de bebidas alcoólicas; a prática de exercícios físicos com regularidade e a não-utilização de drogas que elevam a pressão arterial.
O tratamento medicamentoso é indicado para a maioria dos pacientes hipertensos. Apenas em alguns casos específicos de hipertensão leve, os pacientes podem ser tratados unicamente com modificações no estilo de vida por 6 a 12 meses. Se, nesse período de acompanhamento, a pressão arterial não for controlada, o tratamento medicamentoso deverá ser considerado”, explicou Paulo Souza. A atuação multiprofissional de equipes compostas por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, profissionais de educação física, farmacêuticos, entre outros, otimiza os resultados do tratamento.
Hipertensão na gestação – A pedagoga Joselita Machado Nery (63) recebeu o diagnóstico de hipertensão arterial aos 17. Grávida do primeiro filho e com 24 quilos extras, ela sentia dores de cabeça, tontura e inchaço acentuado dos membros. O risco de eclâmpsia era alto, o que exigia cuidados redobrados com alimentação e muito repouso. Após o parto cesáreo, uma investigação foi iniciada para descobrir a origem do problema, tendo como diagnóstico Hipertensão Essencial. Na segunda gestação, aos 19 anos, a paciente apresentou “inchaço excessivo, placenta prévia, hemorragia, parto de emergência, hemorragia pós-parto e um coma profundo”, relatou Joselita. Aos 29, ela se submeteu a uma histerectomia parcial (retirada do corpo uterino com manutenção do colo uterino) que melhorou muito sua qualidade de vida.
Filha de mãe, pai, irmãos e filhos hipertensos, Joselita sofreu várias hemorragias oftálmicas e crises durante o sono causadas por pico de pressão até começar a tomar a medicação adequada, conforme prescrição do seu cardiologista. “Teve momentos em que eu já acordava com a pressão em 19 por 11”, recordou. Embora não fosse sedentária, ela acabou se tornando obesa em um período da vida, o que acabou facilitando o desenvolvimento da doença. “Quando acordei para a realidade, me tornei ‘rato de academia’. Hoje com 63 anos, por apresentar problemas de coluna e tendinoplastia no pé, faço pilates, caminhadas e exercícios sem impactos, além de dança de salão e culinária. Mas o melhor mesmo é estar livre das crises”, declarou a mãe de dois filhos e avó de quatro netas. “Hoje, sou muito grata a Deus por todas as oportunidades de continuar nesse plano da existência”, concluiu.
Sugestão de entrevistas:
– Cardiologista, clínico geral e ecocardiografista Dr. Paulo Roberto Souza
– Paciente: Joselita Machado Nery (63)
Assessoria de Imprensa: Cinthya Brandão
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