Núcleos e Elos da Teia dos Povos se unem para a primeira construção da Jornada na capital baiana. A perspectiva é ampliar a bianual assembleia de povos tradicionais e movimentos sociais em luta no Brasil para um maior número de participantes.
*Por Coletivo de Comunicação da Teia dos Povos*
Estamos nas aldeias, nos assentamentos, nos quilombos, nos fundos e fechos de pasto, nas beiras dos rios e dos mares, enfim, nos mais diversos territórios espalhados pelos mais variados biomas e regiões, mas também, e muito numerosamente, vivemos nos grandes centros urbanos, principalmente nas periferias das grandes cidades. Somos uma Teia, portanto múltiplas comunidades, povos e territórios que confluem na direção da luta pela liberdade para todas e todos, combatendo a expansão do latifúndio no campo e o agravamento da violência anti-povos empreendida pelo Estado e seu braço armado na urbanidade.
Neste 2024, estabelecemos como um desafio coletivo, em uma perspectiva solidária, aportar em Salvador, capital baiana, para tecer um ajuntamento em torno da construção da *VIII Jornada de Agroecologia da Bahia, que acontecerá em janeiro de 2025* com o tema *“Aliança Campo e Cidade Para o Combate À Fome e À Pobreza”*. Uma assembleia de povos tradicionais e movimentos sociais em luta por Terra e Território, a Jornada é, ao mesmo passo, celebração de culturas e fortalecimento de alianças comunitárias.
Na conjuntura em que se acentuam tanto os ataques às aldeias e comunidades quilombolas, quanto o genocídio do povo preto sob a prerrogativa da guerra às drogas; fortalece-se o racismo e a xenofobia em todo o planeta, com o crescimento de movimentos antimigratórios e a evidência de políticos de extrema-direita; genocídio do povo palestino em Gaza; elevação das taxas de fome e miséria; catástrofes climáticas – respostas da Mãe Terra às imposições do modo de produção e acúmulo neoliberal; registros de escravidão contemporânea em diversas partes do mundo, inclusive fortemente no Brasil e na Bahia; devemos estar unidas e unidos, cidade e campo, favela e roça, mata e águas, na mesma direção e sentido: consquistar a autonomia e a soberania dos povos. O Capital está em crise, precisamos compor formas de contrapor o seu projeto de morte e extermínio.
Primeira capital fundada pelos invasores europeus no território que viria a ser chamado Brasil, Salvador foi o palco de muitas revoltas contra o poder colonial. Deste lugar, emergiram as corajosas e corajosos Malês – a quem reverenciamos em nome da ancestral Luísa Mahin -, que se rebelaram contra as correntes e marcharam nas ruas convocando o povo africano em diáspora para o combate. Anos antes, nas batalhas pela Independência da Bahia, tropas portuguesas passaram maus bocados, sendo expulsos, sem trégua, pelos povos pretos e indígenas que habitavam a Baía-de-Todos-os-Santos. Salve Maria Felipa, Salve Caboclas e Caboclos!
Em 2017, os Núcleos de Base e Elos da Teia dos Povos se uniam em um momento parecido como este, para a grande celebração de mais uma Jornada de Agroecologia, mas em outra quadra histórica: os colonialistas comemoravam 517 anos da invasão de Pindorama no exato momento em que nós reafirmamos a guerra pela derrubada do império e contra a hegemonia do capital. No entanto, este acordo não estaria completo se não demarcássemos Salvador como Território Preto, Índigena e Popular, tanto para vingar os Parentes que aqui estavam antes da desgraça da usurpação europeia e os povos de África que foram sequestrados e trazidos, primeiramente, aos portos baianos, quanto para consolidar as organizações que, neste tempo, tece lutas pela dignidade da nossa gente.
Temos visto e vivenciado o aperto e o caos das grandes cidades. Afastado dos Territórios, tendo seus antepassados sido roubados ou expulsos da Terra, o nosso povo segue se esgueirando para cima, nos morros, submetido às mais trágicas e insalubres condições de sobrevivência, muitas vezes sem comida e sem água, vendo os seus filhos ceifados por um Estado que não apenas não lhes oferece as ferramentas de libertação, mas cuida de tomar-lhes as vidas de forma cruel e impiedosa. Estamos convocando, justamente, esse povo para se ajuntar à grande batalha. Precisamos retornar a Terra, onde poderemos plantar comida saudável para alimentar nossos rebentos, respirar o ar puro que nos foi roubado pelas Caravelas, e desatar as correntes da miséria. Queremos tecer formas de compor vida, e vida com abundância, vida com plenitude!
Este é um chamamento a todos os povos, organizações, coletivos, movimentos e comunidades! Sem unidade, é impossível derrotar o capital, o latifúndio, o império e as forças repressoras do Estado. Somente juntas e juntos poderemos tornar real aquilo que os nossos ancestrais sonharam: virar este mundo em Festa, Trabalho e Pão! Vamos para a VIII Jornada de Agroecologia da Bahia!
_Diga aos povos que avancem! Avançaremos!_
_O que nos une é maior que o que nos separa!_
_Em memória de Nêga Pataxó, nenhum passo atrás!_
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