Adeuses

Entre 2019 e 2021, só aqui no Brasil, vivenciamos uma dor coletiva como há muito não se registrava na História! Contamos com mais de 650.000 “Adeuses”!
Independente da fé de cada um, há no adeus eterno um lapso no existir, um espaço no mundo é desocupado, um colo se desfaz, um ombro já não está mais presente, uma mão não mais afaga.  Há um rompimento nos sentidos concretos em relação a quem vai: não há o tato, não há o cheiro, não há o olfato, não há o paladar, não há mais a visão de quem se foi!
Encerram-se, dessa forma, os laços? Zera-se tudo? Da presença positiva ou dolorosa do ser vivente, passa-se ao nada? Ocuparão esses lugares as memórias, as lembranças, as fotografias, os livros escritos, as construções realizadas, os projetos concretizados, as sementes germinadas. Também haverá dores que não foram remediadas, cicatrizes tatuadas, peso de palavras não ditas, sentimentos represados que ficaram acumulados ou não foram revelados.
E o que fazer com isso? Alimentar-se dessa egrégora e seguir refém desse contexto,  que, do ponto de vista concreto, foi superado pela própria ausência de um dos seus elementos? Negar que a ausência é presença que escarnece e dói? Ou associar-se a Tempo e viver cada dia? Perdoando-se a cada momento, a cada memória, a cada batida do coração que ainda fisga o nosso peito; deixando amainar tudo?
Acalmados o sentir e a razão, talvez seja mais suave seguir. Talvez haja perdões… Talvez, superações… Resiliência. Ou mesmo a força dos vínculos outrora estabelecidos seja ancestral e siga nos acompanhando para além de nós.
A partir dessa visão, propõe-se lançar o olhar sobre o nosso estar, na certeza de que, no brotar da semente, há destino final único, igualando a todos e todas, inclusive os que nos seus devaneios ainda se entendem superiormente diferentes. Como você está fisicamente e psicologicamente? Precisa de ajuda de um profissional? Quem está aí com você? Se é alguém importante, já disse isso para ela ou para elel?  O que deseja fazer ou já está produzindo ou construindo? Qual semente  deseja que floresça no Mundo? Já plantou sementes? Que versos escreve ou está por escrever no Livro da Vida?
Muitas pessoas sentem medo do último adeus e paralisam-se diante dele! Precisamos botar fé no que está depois ou antes dos Adeuses: A vida presente. Ela é convite para seguir adiante, assim como o pó que segue no vento ou a terra absorve, ou o corpo que transcende, ou a alma que renasce, ou o espírito que vai!
Da coluna Poesia com Luz, além dessa reflexão, que tem pretensão de ser apenas uma partilha, segue um abraço para todas e todos cujo dia 02 de novembro faz algum sentido. No abraço, implícita homenagem a todas e todos que se foram nesse período de pandemia. Entreguemos a Tempo o entendimento. A vacina foi questão de tempo para a Ciência acertar caminhos para a cura! E estamos vencendo!
Por fim, poesia. De Negra Luz:
Das raízes do Baobá
Era dali que observava você…
Das raízes…
Grande a nossa distância!
Terra e Ar.
Pó e vento.
Um aqui e outro lá!
Distantes, e equidistantes.
A escola em que me inscrevi
É a própria na qual você está a passar.
Às vezes, parece que são maiores as minhas raízes,
Os meus caules  mais jovens…
Mais moles…
Sem as mesmas cascas…
Livres de ranhuras.
Grande a distância entre você e eu?
A Terra é azul!
Gira.
Rodam-se as saias!
Gingam meninos!
Sambam, meninas!
Força, meninxs!
E, quando olho adiante de nós,
Quem vejo?
Tempo!
Gestor de todo movimento…
Um Baobá!
Mesmo caminho de todas as jornadas:
Germinar, nascer, crescer,
Se puder, se quiser
E, assim, escolher…
Multiplicar-se,
Envelhecer…
Desvencilhar-se das correntes
Depois…
O derradeiro sopro de vida…
Encontro marcado:
Morrer-Viver!
Igualados!
Eu e você…
E vocês!
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Sobre Shah Moises 1994 Artigos
Cineasta, editor, e produtor cultural.
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